terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

terça-feira

Não importa o que
ou quem mas ame

o seu açucareiro
e a colherinha

a menina da cantina
e a sua vizinha

as suas botas loucas
e a virgem da praça

os seus chinelões tristes
e a evangélica

a doceira, a frentista,
a senhora que faz tapioca
a outra da esquina do cafezinho.

Não interessa idade
se coisas ou gente
ame

o seu guarda-roupa esquisitão
a cama box solteiro

a colega de trabalho,
a chefe, a faxineira
todas as donas
de casa

não se preocupe
com as rugas da pele
ou com a poeira
dos móveis
ame

desesperado, faminto
cheio de vitalidade

acaricie as dobras
da tolha de banho

afague as juntas
do lençol adormecido

meta a mão por dentro
dos travesseiros tímidos
ame

febril, olhos lacrimosos
beije os lábios das pessoas
cheire as axilas das amantes
faça as unhas do seu amor

nem ligue o tempo
o clima (calor, frio)

ame mais que tudo
a alma das criaturas
da mesma forma
a alma dos objetos

ame, meu caro
ame até o fim
dos tempos

e mesmo debaixo da terra
ame descaradamente
as minhocas

ou se cremado
ame o vento

(mas ame de novo
até a vida seguinte)

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