Quantos pratos passaram por minhas mãos
e só agora eu vejo os traços abstratos,
rupestres, geométricos em torno
da circunferência da louça.
Quantas toalhas de mesa coloridas,
recortadas, de plástico e de pano
e só agora eu toco na textura
os olhos inebriados.
Quantos insetos acordaram,
espreguiçaram, bocejaram
recém-nascidos viçosos
e só agora eu sorrio
de volta.
Quantas cadeiras, sofás,
cômodas, cristais, ferro
tive diante da minha alma
e só agora eu percebo
a solidão dos objetos.
Quantos chinelos, tênis,
sapatos, jeans e casacos
perderam-se mofados pelo tempo
e eu sequer derramei uma lágrima.
As pessoas não mudam
(o cabelo que embraquece
os dentes que caem
não é definitivo)
os objetos, no entanto, sob o nosso desleixo
renascem todos os dias com uma nova face.
Nenhum comentário:
Postar um comentário