Levei tua mala até o último andar
ajudei na tua mudança depois sumiste
deixando na escadaria o brilho do teu riso
de aparelho ortodôntico.
Três dias seguidos prostrei-me no corredor.
Arriscava sorrateiro à porta do teu apartamento.
Depois no banquinho perto da capela.
Sempre de olho comprido pro teu bloco.
Pra tua garagem.
Bastava ouvir um ronco de carro
interfonava ao comparsa:
"é ela?"
Nunca eras tu.
Tu tens asas?
Quem ganhou com a tua vinda
foi o camarada porteiro:
vivo acampado no hall oferecendo-lhe
cafezinhos e sanduíches por informações
sigilosas a teu respeito.
Sei que és de uma ilha.
Sei que estás de passagem.
Esquento a cachola pensando
se não és de fato um sonho.
Dos sonhos eu fujo
(nem quero conversa
sequer piscadela de cílios)
O porteiro camarada
garantiu-me que és solteira.
Jurou-me de pés juntos
que não recebes visitas.
Pergunto-me se não és um feitiço
adorável presente de Iemanjá.
Búzios costurados em saia branca.
Guizos presos aos tornozelos.
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