terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

claridade

Levei tua mala até o último andar
ajudei na tua mudança depois sumiste
deixando na escadaria o brilho do teu riso
de aparelho ortodôntico.

Três dias seguidos prostrei-me no corredor.
Arriscava sorrateiro à porta do teu apartamento.

Depois no banquinho perto da capela.
Sempre de olho comprido pro teu bloco.
Pra tua garagem.

Bastava ouvir um ronco de carro
interfonava ao comparsa:
"é ela?"

Nunca eras tu.
Tu tens asas?

Quem ganhou com a tua vinda
foi o camarada porteiro:

vivo acampado no hall oferecendo-lhe
cafezinhos e sanduíches por informações
sigilosas a teu respeito.

Sei que és de uma ilha.
Sei que estás de passagem.

Esquento a cachola pensando
se não és de fato um sonho.

Dos sonhos eu fujo
(nem quero conversa
sequer piscadela de cílios)

O porteiro camarada
garantiu-me que és solteira.

Jurou-me de pés juntos
que não recebes visitas.

Pergunto-me se não és um feitiço
adorável presente de Iemanjá.

Búzios costurados em saia branca.
Guizos presos aos tornozelos.

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