Somos tão boçais e inúteis
(não serão nossos versos
a redenção do fingimento)
A flor desenhada na toalha
é mais sincera que as batidas
do meu coração.
Não podemos viver sem inimigos.
Um rosto para esbofetear.
Um pneu para enfiar-lhe pregos.
Devemos compartilhar a nossa idiotice.
A nossa sede desenfreada pelo olhar do outro.
A rachadura da cerâmica significa
muito mais que a saudade antiga
que por um esforço supremo
fiz tremer levemente alguns
e poucos cílios.
O tomate que mastigo
engana-me igualzinho
à maçã de ontem.
Tive que cuspir no guardanapo
o que sobra da esperança.
Maçã podre,
tomate podre
são detalhes
da língua.
Revelador é que o guardanapo estava no chão
solitário sendo levado pelo vento:
bastou-me o gosto horrível na boca
para que ele [o guardanapo]
fosse a tábua de salvação
de um tímido vômito.
Sequer consigo ficar de pé
mórbido e preguiçoso
com as costas voltadas
para o ventilador.
Não existe pufe
[agora é uma cadeira
de plástico preta
que geme]
não duram um mês
as suas pernas de alumínio.
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