segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

túnicas

Antes de dormir
peço a deus
que eu não sonhe
contigo

(és malvada,
trágica
com o meu olhar
doce e míope)

acabas sempre
me acordando
de madrugada

e as roupas penduradas
no varal do banheiro
me dão medo,
agonia.

Penso logo no teu sutiã no trinco da porta.
Tua calcinha vermelha na torneira do chuveiro.

Ainda não entendi por que as minhas roupas
(jeans, toalha, farda do trampo)

me aterrorizam tanto e ao mesmo tempo
fazem com que o meu coração se encha
das tuas lembranças (chego a ouvir
teu brinco cair do bolsinho
do teu short)

As minhas vestes sombras animalescas
presas por crocodilos azuis e amarelos
tremem a cada rajada de vento.

Eu tenho medo
que caia dentro
do vaso sanitário
a tua camiseta
aquela florida.

Ora diacho, ora bolas
são as minhas roupas
trincadas por prendedores
(crocodilos, sapinhos
e gansos) que balançam
com a noite.

Há tempos que teus sutiãs
e as tuas calcinhas andam
por outras margens.

Nunca pensei que as tuas sedas,
algodões, linhos, lycras
fariam da minha vida
uma loucura.

(são reais os fantasmas
sem teu corpo)

8 comentários:

  1. Ah essa miopia que só nos deixa ver bem DE PERTO[...bem de pertinho]rs

    Beijos...

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  2. Muito bom, meu nobre! Isso me lembrou, vagamente, um poema que nunca terminei. Quando finalizá-lo, prometo lhe mostrar, ok?

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  3. O medo de não ser sonho, de não ser pesadelo.
    O medo do medo de não ter de que ter medo
    O medo de não ter motivos de ter pesadelos...
    Íris Pereira

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  4. Tão únicas as tuas poesias que das túnicas fazes tema e das roupas dependuradas, fantasmas. Mas a frase final é chave de ouro: "São reais os fantasmas sem teu corpo".
    Domingos, vc é demais!
    Beijokas.

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  5. isso não é uma túnica, é uma veste completa...

    és terrível, meu bruxo!

    beijo de quem bem te quer.

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  6. querido amigo,
    ai essas túnicas que nos assombram fazendo circular nas veias, mais que sangue, todo o suor que não soubemos reter... ai essas túnicas... mesmo que sem o corpo que um dia nos ensinou os mais difíceis passos da dança...
    um abraço, poeta imenso!

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  7. Eu tenho medo dos objetos deixados para trás por alguém, parece que fica a pessoa a nos espionar, a energia fica toda lá neles, e eles sugam a nossa.

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  8. muito sensual este seu texto
    beijo
    Laura

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