segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Renascimento

Jogue os seus remédios ao vaso sanitário.
Toda aquela porcaria não lhe serve mais.

Eu lhe morderei o pescoço
e lhe darei sangue novo.

Você vai rir, chorar
enlouquecer de verdade.

Sem pena do bichinho doméstico.
Sem tanto padecer pela morte da cadelinha.

Ela já estava idosa,
quase centenária (só não andava de bengala
porque é difícil ajustar um cajado
a quem tem quatro patas
e um focinho)

Dê as contas do seu psicólogo.
Abrace-o, beije-o.

Mas dê-lhe
o último cheque.

Venha ao meu quarto
(um consultório doutro mundo)

e traga-me apenas o seu pescoço à mostra.
Branco, lânguido, com finos caracóis na nuca.

Morderei a belezinha.
Darei ao seu coração sangue puro.

Você vai pular do chão.
Não vai querer mais parar de sambar.

Eu lhe ensinarei a amar as coisas belas
com imensa e inesgotável devoção.

Começando por seu pescoço.
Depois seu umbigo.

Aproxime-se,
darei apenas um beijo
(em seguida uma mordida)

O seu coração (feito uma tampa
de champanhe) baterá no teto.

Venha ao meu quarto
(consultório doutro mundo)

sente-se na minha cama box solteiro
deixe-me ver seu pescoço (preciosidade)

será apenas um beijo e uma mordida
para que você nunca mais seja chamada
de louca, estérica, tola, coisinha sensível.

Eu lhe darei um sangue quente.
Eu lhe darei o meu sangue.

E você rasgará sua roupa
debaixo do chuveiro
sorrindo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário