Tive de mudar de casa.
Embora os meus fantasmas
ainda me visitem com seus jeans apertados
tênis surrados e camisetas coloridas sem manga.
Esses fantasmas não querem nem saber.
Moram dentro das corcundas dos camelos
e de alguns moluscos.
A minha corcunda mesmo atrofiada
ainda serve como ótima morada.
Os meus fantasmas surgem
na cozinha entre cadeiras
e perto do fogão.
(sempre derrubam
o açucareiro)
No quarto ultimamente
apenas um e outro
sentam na cama
e viajam
de olhos tesos
ao teto.
No fundo eles sabem
que a minha casa
também não existe.
Não há portas
janelas nem paredes.
Os meus fantasmas visitam-me
só para me lembrar que houve
um tempo de guerras
e loucuras.
De mãos dadas (correntes
presas aos tornozelos)
bebíamos tanto vinho
e fumávamos tanta coisa
que nem mais sabíamos ao certo
quem era o espectro quem era o poeta.
Foi bom enquanto eu era uma criança.
Aprendi a não ter medo do escuro
nem de relâmpagos e trovões.
Mas ontem (confesso)
acordei sobressaltado
do cavernoso abraço
entre duas nuvens
imensamente tristes.
Creio que é hora
de ensinar às nuvens escuras
que todos nós (poetas e fantasmas)
precisamos do azul do céu no outro dia.
(nem que seja uma pontinha
depois do arco-íris)
Esse poeta só dá tijolada, o cabra bom de verso!
ResponderExcluirEu afugentei os meus fantasmas nesses últimos 40 dias em que decidi ter uma disposição espiritual e fiz uma aliança com o sagrado, buscando-me a mim e as minhas vontades... Regredi, mas avancei 40 mil anos-luz!
ResponderExcluirBeijo, de domingo, Domingos!
UAU! Domingos! Que poema fantástico! Gostei muito das imagens que foram se projetando em minha mente enquanto lia... muito bom mesmo! Todos nós temos nossos fantasmas, não é? Os meus me visitam à noite... rs é terrível!
ResponderExcluirGrande abraço! :)
estou preparando uma fogueira para aquecer meus fantasmas,
ResponderExcluirabraço
Olá!
ResponderExcluirTe encontrei quando dava uma volta pela blogosfera e me encantou muito este espaço e a forma como as palavras são escritas, como quem tece uma bela peça com o mais elegante tecido.
Parabens pelo trabalho.
Lhe convido a me vsitar, dá uma passadinha lá em casa:
http://passossilenciosos.blogspot.com
Bjus no coração muita paz...
A primeira parte remeteu-ma à Hilda Hilst: "Tu não te moves de ti".
ResponderExcluirhttp://vemcaluisa.blogspot.com/
adorei os seus fantasmas, mas não consigo encontrar a fórmula para acabar com os meus, existe?
ResponderExcluirBeijos
Laura
"os meus fantasmas visitam-me
ResponderExcluirsó para me lembrar que houve
um tempo de guerras
e loucuras"
esta estrofe vale todo um poema, querido amigo.
sempre com o fôlego atravancado depois de passar aqui.
abraço!