sábado, 8 de janeiro de 2011

milagre

As flores da toalha de mesa
são belas e gentis.

Chego a sentir o perfume
de todas as migalhas
e nódoas  (adormecidas
sobre sua pele) .

Movem-se aos meus olhos
sob um louco e sensível bailado.

Não precisam do sol
nem da chuva

e todas as moscas
e todas as formigas

passeiam na sua pele
feito jardineiros.

As flores da toalha de mesa
(pintadas com doce solidão)

só sentem falta
de uma ou duas
borboletas.

Mas não por muito tempo
(já desço as escadas)

não será tão difícil
no canteiro da pracinha
encontrar uma boa alma
que pouse nos meus ombros.

4 comentários:

  1. Há tanta poesia ao nosso redor, hein, Domingos? E teu lirismo a captura com uma facilidade comovente...

    Já te disse muitas vezes que adoro ler-te...

    Beijinho de Luz...

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  2. AS FLORES

    Aonde estão as flores
    Da sua cabeça?

    Murcharam, secaram
    Só restaram os caules e espinhos
    Ressecados de tristeza

    Estão em qualquer vaso
    Largados, jogados, rachados, quebradas
    Enfeitando qualquer mesa

    Estão nos arranjos
    Mandados, estão estampadas
    Na blusa que você me deu

    E lá permanecem bem vivas
    E tão coloridas
    Só que você esqueceu



    (Lula Côrtes; Ortinho)

    Abraços, poeta!

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  3. domingos, poeta-camarada,
    como se diz em portugal, e num registo bem familiar, "venham daí esses ossos"!
    abraço com a amplitude do oceano!

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  4. Bonito isso, Domingos!

    Beijo!

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